A FRONTEIRA HOJE: A NOVA RELAÇÃO ENTRE O PORTUGUÊS E O ESPANHOL A PARTIR DE UMA ANÁLISE EM JORNAIS DE URUGUAIANA (PROJETO DE PESQUISA VINCULADO AO ENTRELÍNGUAS- DEPARTAMENTO DE LÍNGUAS ESTRANGEIRAS MODERNAS- UFSM)
DAIANA MARQUES SABROZA 1, ELIANA ROSA STURZA 2
Introdução
A relação entre a língua portuguesa e a língua espanhola torna-se cada vez mais estreita, seja por razões políticas, sócio-econômicas, históricas ou geográficas. Os estudos nas regiões de fronteira mostram que hoje esta relação entre as duas línguas “não é mais de interferência ou de transparência absoluta, mas de continuidade enunciativa”. (STURZA, 2009, p. 210) Segundo Sturza (2009) esta continuidade reproduz na língua a proximidade sócio-cultural do espaço fronteiriço, neste caso, a fronteira é vista como um lugar à parte, um espaço de conteúdos próprios (BEHARES, 1996, p. 26). Esta relação de proximidade entre as duas línguas se torna ainda mais evidente quando analisada em sua materialidade. Assim, o presente trabalho apresenta uma breve análise de textos em espanhol do início do século xx – do ano de1905/1906 e do ano de 2010, jornais da cidade de Uruguaiana, fronteira entre Brasil e Argentina.
Objetivos
Contrastar os modos de circulação da língua espanhola em textos de jornais publicados no início do século XX e em textos atuais, para que se analise como a relação entre o espanhol e o português se materializava no antigo jornal da cidade e como se materializa hoje, isto é, verificar como o espanhol ocupa atualmente espaços de circulação no uso da língua portuguesa nas regiões de fronteira.
Metodologia
O corpus do trabalho é constituído de três textos publicados em espanhol no jornal A Notícia, de Uruguaiana, no início do século XX e cinco textos publicados também em língua espanhola, no Jornal de Uruguaiana, neste ano de 2010. Estes são analisados a fim de verificar-se como está representada nos textos a presença do espanhol, nessas diferentes épocas, em diferentes condições sócio-históricas. A análise é baseada no trabalho de Sturza e Fernandes (2009), A Fronteira como novo lugar de representação do espanhol no Brasil.
Resultados
Contrastando e analisando os textos selecionados, há diferenças entre o antigo jornal da cidade e o atual: Os textos do jornal A Notícia são propagandas e anúncios, ou seja, textualidades que pertencem ao universo econômico e que demonstram a importância do comércio na região fronteiriça, no início do século XX. Já os textos publicados atualmente, no Jornal de Uruguaiana são mais diversificados, são notícias sobre alimentação, saúde e propagandas. Além disso, estão dispostos em uma página inteira destinada à cidade vizinha, Paso de Los Libres, Argentina. Isto nos leva a considerar que a relação hoje entre o espanhol e o português, na fronteira, não se limita estritamente à negociação comercial, é uma relação mais integradora, uma vez que o jornal ilustra como a língua não é apenas um instrumento para comunicar, anunciar. É a língua do outro, do vizinho, é a língua que faz fronteira e que tem, portanto, leitores possíveis, indicando uma integração menos separada pelas nacionalidades.
Conclusão
Portanto, a língua espanhola já se fazia presente no espaço de circulação da língua portuguesa no início do século, porém em um contexto distinto de hoje. Segundo Sturza (2009), as atividades econômicas no início do século XX eram intensas, grande parte da economia platina baseava-se na importação e exportação de mercadorias nos portos fluviais. Sendo assim, os textos publicados no antigo jornal de Uruguaiana em espanhol não podiam representar outra coisa, senão esta relação econômica estabelecida entre o português e o espanhol na fronteira. Porém hoje, a relação entre as línguas na fronteira vai muito além do aspecto econômico, é mais integradora, o que possibilita definir a fronteira, como afirma Camblong (2006) em: “Un mundo dinámico em que se manejan varias monedas, distintas lenguas, más de una documentación personal, se compra y se vende, se llora y se ríe, se ama y se odia en movimientos contínuos de um lado al otro.” (Camblong 2006, apud Sturza, 2009, p.211)
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