INFLUÊNCIA DO PORTUGUÊS SOBRE O SEGMENTO /S/ DO ESPANHOL
EM ZONAS DE FRONTEIRA.
Luciana Rodrigues Alves Ribeiro (FURG,UFPEL)
Jorge Espiga (UCPEL,CEFET/RS)
Resumo
Este trabalho, em uma abordagem qualitativa, pretende estudar a possível
influência do português sobre o espanhol na produção do segmento /s/ em
zonas de contato entre as duas línguas. Tem como base gravações feitas em
uma zona onde há contato entre as duas línguas (Sant’Ana do Livramento -
Rivera).Idade, escolaridade, local de nascimento e níveis de contato com a
língua portuguesa foram os critérios utilizados para selecionar os informantes a
serem entrevistados. O estudo pretende mostrar que nessa zona de fronteira a
evolução da língua espanhola na produção do segmento /s/ não apresenta
apenas as realizações que se observam em zonas onde não haja este contato.
Este estudo toma como referente a variante rio-platense (compreendida por
Buenos Aires e Montevidéu) já que é de onde vem a maior influencia na
realização dos fonemas do norte do Uruguai.
Palavras-chave:
sociolingüística.
línguas em contato, dialetologia, variação fonético-fonológica,1. Introdução:
Este estudo terá uma abordagem inicial qualitativa, que posteriormente será
aprofundada com respaldos quantitativos.Neste primeiro momento, duas
questões foram levadas em conta: a contextualização sócio-histórica e
geográfica e a variação especificamente fonética do espanhol fronteiriço.
A origem do contato entre o português e o espanhol, na zona de fronteira entre
Brasil e Uruguai, é conseqüência da disputa dos Reinos espanhol e português
pelas terras do Novo Mundo desde o século XXVI. Nessa época, não existia
um controle efetivo do trânsito de pessoas ou coisas, isso só ocorrerá após a
independência do Uruguai. Então começaram as demarcações que definiram
que território pertenceria a cada país (Elizaincín,1993).
Em 1855 , quando as demarcações atingiram a região onde estão situadas
atualmente as cidades de Sant’Ana do Livramento (Brasil) e Rivera (Uruguai),
ali só existia um povoado brasileiro que se estendia ao longo da coxilha. O
povoado de Livramento foi elevado à categoria de vila em 1857. Em 1860, os
uruguaios começaram a construir um povoado em frente à recém criada vila
brasileira, que recebeu o nome de Ceballos e posteriormente recebendo o
nome de Rivera.
Elizaincín (2001) afirma que quando a lingüística estuda o espanhol americano
para ver como influenciaram as diversas línguas com as quais teve contato, o
português tem um lugar preferencial, quase determinante na hora de estudarlo.
A interferência consiste geralmente na influência de uma língua sobre a outra
quando estão em contato e altera o natural de ser delas. A interferência,
segundo a concepção de Weinreich (1963,
em 6 níveis, mas o que será focalizado neste estudo será apenas o fonético.
Mais especificamente, a interferência de um sistema fônico sobre o outro.
apud Semino 2007), pode ocorrer2. Objetivo
Ao levar em conta que o português e o espanhol estão em contato nas cidades
de Sant’Ana do Livramento e Rivera, temos então, uma situação favorável à
interferência fônica do segmento /s/, que é o objeto deste estudo, pois, tem
diversas realizações na variante rio-platense. Em efeito, este estudo tem por
objeto mostrar as realizações fônicas de /s/ que são distintas das realizações
rio-platenses que não estão em zona de fronteira com o Brasil e que aparecem
na amostra da cidade de Rivera.
Caracterizar os alofones de /s/ que aparecem na variante rioplatense e
comparar-los às realizações fônicas da amostra da cidade de Rivera.
3. Revisão bibliográfica
3.1 .
Realizações de /s/ na variante rio-platenseEm Quilis (1981) e María Andión Herrero(2004) encontramos os alofones de /s/
dessa variante:
[s] fricativa linguoalveolar surda, em sua realização plena ante vocal. Exemplo:
saber [sa’
[h] fricativa faríngea ou laríngea surda, em sua realização aspirada.Exemplo:
esto [‘ehto];
[x] fricativa velar surda, em sua realização velarizada. Exemplo:mosca
[‘moxka];
[
• Realização plena [s] em ataque em posição pré vocálica, em coda em posição
final ante vocal.
• Realização aspirada [h] em posição final antes de vogal e em posição pré
consoante interna ou final.
• Realização velarizada [x] em posição pré-consoante interna ou final quando
seguidas dos fonemas velares [k] y [g].
•e•];•] elisão ou perda.3.2.
variante rioplatense.
Realizações de /s/ na amostra de Rivera diferentes das encontradas naEm Quilis (2000) e Callou e Yvonne Leite (1994) encontramos as variantes da
amostra:
[s] fricativa: inguoalveolar surda, em sua realizaçãp plena ante consoante.
Exemplo:
[‘basta];
[z] fricativa linguoalveolar sonora, em sua realização sonorizada. Exemplo
[‘dezde];
Quilis explica que [z] é um alofone de /s/ e não permite diferenciar significados
como no português.
• Realização plena [s] em posição pré consoante interna ou final.
• Realização sonorizada [z] em posição final ante vogal ou ataque em posição
prevocálica.
3.3.
Contextos de usoLipski (2006) caracteriza a realização de /s/ como aspirada e sugere que o som
de sibilante – realização plena- só aparece na fala cuidada ou artificial. Afirma
que a elisão aparece apenas nas classes sociais mais baixas e que no dialeto
fronteiriço a realização de /s/ é variável.
María Andión Herrero (2004) sustenta que a aspiração de /s/ está generalizada
na Argentina e Uruguai. As outras realizações desse fonema também
encontradas nesses dois paises são a velarização e a elisão.
Antonio Quilis (2000) afirma que o segmente /s/, quando se encontra em
posição posnuclear não se pronuncia como /s/ porque há a aspiração [h]. Esse
fenômeno está muito difundido em algumas regiões americanas.
Mircea Doru-Brânza y Joan Llinas Suau (2003) defendem que no espanhol
rioplatense o segmento /s/ em posição interna ou final, ante consoante, estão
em um contexto favorável à aspiração ou elisão.Dizem que em silaba travada o
segmento /s/ é produzido como uma fricativa laríngea [h].
Maria Vaquero de Ramires (2003) aponta que no espanhol de Buenos Aires há
um debilitamento de /s/ em etapa de aspiração majoritária.Aponta algumas
assimilações do segmento (provavelmente a velarização) que podem estendese
até a elisão.
Ana Maria Carvalho (2006) em seus estudos, afirma que a realização aspirada
do segmento /s/ foi eleita como variante de prestígio pela classe mais alta de
Rivera. A realização plena sofreu estigmatização durante muito tempo, o que
teria causado a maior difusão da variante aspirada. Assim mesmo, a realização
plena ainda é dominante em todos os outros grupos sociais e aparece também
na classe alta.
Vásquez (1953) diz que a realização plena de /s/ em posição implosiva é
contrária à norma do sistema fônico uruguaio, que teria um caráter estilemático
e que a realização do segmento nesse contexto revelaria o caráter estrangeiro
do falante. Afirma que nas regiões limítrofes com o Brasil o segmento /s/ tem
realização plena [s] e que nas demais regiões do país tal realização
denunciaria a origem fronteiriça do falante.
4. Meios e Métodos
O método de trabalho consistiu em entrevista de fala livre feitas a 24
informantes pertencentes a grupos pré-estabelecidos na cidade de Rivera. As
entrevistas foram feitas nos dias 11,12 e 13 de julho de 2007, no perímetro
central da cidade e têm duração de 10 a 20 minutos.
Foram seguidas as propostas de Fernando Tarallo (1987) y Eva Lakatos (2006)
para compor a pesquisa. Para fazer as gravações, foi usado um gravador Sony
TCM-200DV e fitas K7 TDK.
4.1.
Os Informantes.A amostra está constituída por 24 informantes elegidos por 3 fatores: idade,
escolaridade e níveis de contato com o português.Todos são riverenses natos
e falantes de espanhol como L1.
a) Idade: de 16 até 29 anos, de 30 até 44 anos e 45 até 60 anos. Totaliza 8
informantes em cada grupo.
b) Escolaridade: baixa para quem estudou até a primária e alta para quem
estudou até a terciária. Totaliza 12 informantes em cada grupo
c) Níveis do contato com o português: monolíngüe para quem fala somente
espanhol e bilíngüe para quem fala espanhol L1 e português.Totaliza 12
informantes em cada grupo.
Tabela de realizações de /s/ distintas das rioplatenses encontradas na
amostra
Grupo por idade Monolin/ Baixa Monoling/ Alta Bilin/Baixa Biling/Alta
G1
-16 até29 anos [s] [z] [s] [s] [z] [s]G2
-30 até 44 anos [s] [s] [s] [z] [s] [z]G3
-45 até 60 anos [s] [z] [s] [s] [z] [s]Total
24 informantesMB=monolingüe baixa MA=monolingüe alta BB=bilingüe baixa BB=bilingüe alta
5.
Análise dos resultados•
O grupo que mais usou a realização plena de /s/ é o G2, seguido do G1 e G3;•
A realização plena de /s/ foi encontrada em todos em MA, MB. BA e BB.•
G3BB,G1BB,G3MB e G1MA;
•
fonológicos distintos dos que aparecem na variante rioplatense.Isto talvez seja
explicado pela dupla influência do português (DPU e português brasileiro) que
existe na cidade.O contato dos riverenses com o DPU (Dialeto Português do
Uruguai) se dá em âmbito familiar e o intenso contato dos riverenses com o
português do Brasil se dá por meio do comércio, televisão, rádios etc...
A sonorização de /s/ foi encontrada nos grupos G2BB, G2BA,Na amostra foram encontradas realizações plenas de /s/ em contextos•
variante rio-platense.A aspiração apareceu mais no grupo de escolaridade alta;
A aspiração de /s/ na amostra de Rivera, tende a aparecer menos do que na•
plena [s] é dominante;
A aspiração de /s/ aparece menos no grupo dos bilíngües, pois, a realização•
baixa;
Apesar de ser pouca, a elisão aparece nos grupos G1 e G3 de escolaridade•
A sonorização não foi encontrada no grupo MA.G2MB, G1BA e G3BA;6. Conclusões
Na amostra estudada foram encontradas realizações de /s/ diferentes das rioplantenses,
isto talvez assinale para uma zona dialetal do espanhol dentro do
Uruguai.No entanto, para caracterizar
sobre o fenômeno.
A influência do português sobre o espanhol da fronteira uruguaia está
caracterizada com a realização de plena de /s/ que se mantém ainda que
apareça em sílaba travada.A realização aspirada de /s/ em sílaba implosiva
está difundida em toda a região do Rio da Prata.
A realização plena [s] foi encontrada em todos os grupos estudados.Deve
destacar-se que a presença da realização plena em especial no grupo
monolíngüe alta, pois, este exerce influência - no que se refere a prestígio
lingüístico - dentro da comunidade de falantes de espanhol.E, sem dúvida o
grupo MA é o que mais sofreu influência da aspiração de /s/ proveniente de
Montevidéu.
O uso da oposição /s/ - /z/ também demonstra uma grande influência do
português porque o espanhol perdeu essa oposição há muito tempo.Porém,o
uso desta oposição está sujeito a regra variável.
Entre os monolígües do grupo G2 foi encontrada a realização sonorizada [z],
isto chama a atenção porque este es um grupo de mobilidade social que
também contribui para consolidar e prestigiar as variantes de um dialeto.
A influência do português sobre o espanhol na realização do segmento /s/ se
confirmou ao longo deste estudo.
-la seriam necessários mais estudosReferências Bibliográficas
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